Lideranças da Terra IndĂgena (TI) Apyterewa, localizada em São Félix do Xingu, no sudeste do ParĂĄ, a cerca de 1 mil quilômetros de Belém, denunciaram ao Ministério PĂșblico Federal (MPF) um novo ataque armado à aldeia Tekatawa, do povo parakanã.
Segundo o cacique Mama Parakanã, homens armados invadiram a aldeia na madrugada da Ășltima quarta-feira (19). "Foi muito tiro de [espingarda calibre] 12, pistola, carabina, rifle 44, todo tipo de arma", relatou o lĂder indĂgena em uma mensagem de ĂĄudio que enviou a servidores do MPF.
"A gente revidemos e, graças a Deus, ninguém se feriu", acrescentou Mama Parakanã ao pedir ajuda dos órgãos pĂșblicos para evitar uma tragédia. "A gente precisa de apoio da Força Nacional, da PolĂcia Federal, de juiz, de procurador".
De acordo com a Coordenação das Organizações IndĂgenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma ponte que dĂĄ acesso à região foi destruĂda, deixando a aldeia Tekatawa isolada. "Felizmente, não houve feridos no ataque. No entanto, em razão do risco iminente, as mulheres, crianças e idosos foram imediatamente evacuados para uma aldeia vizinha", acrescentou a entidade indĂgena, cobrando que o episódio seja investigado e os agressores, punidos.
Segundo órgãos federais, a Terra IndĂgena (TI) Apyterewa jĂĄ foi o território mais desmatado da Amazônia Legal. Até que, em outubro de 2023, o governo federal deflagrou uma megaoperação de desintrusão para retirar todos os não indĂgenas da ĂĄrea de cerca de 773 mil hectares destinados ao usufruto exclusivo dos parakanã. Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial.
Segundo a Fundação Nacional dos Povos IndĂgenas (Funai), além de devolver o território aos indĂgenas, a desintrusão e a presença dos órgãos estatais quase zeraram o desmatamento na TI Apyterewa. Contudo, as riquezas naturais do território seguem despertando a cobiça de invasores e, de tempos em tempos, novos ataques às comunidades e confrontos entre indĂgenas e não indĂgenas são registrados.
De acordo com o Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), entidade vinculada à ConferĂȘncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o ataque da Ășltima quarta-feira foi o terceiro registrado em menos de trĂȘs meses.
"São represĂĄlias dos invasores à reocupação dos indĂgenas nas ĂĄreas em que eles ocupavam antes da desintrusão. Os parakanã estão abrindo novas aldeias nessas ĂĄreas para fazer a vigilância e o trabalho de agricultura. Isso dificulta ou impede o retorno. A cada mĂȘs, então, os antigos invasores fazem ataques como se a terra fosse deles", analisa, em nota, José Cleanton Ribeiro, da coordenação do Conselho Indigenista MissionĂĄrio – Cimi Regional Norte 2.
"Ressalte-se que essa não é a primeira vez que a aldeia é alvo de agressões, o que agrava o clima de insegurança e apreensão entre os membros da comunidade [que reafirma] a necessidade de medidas urgentes por parte das autoridades competentes para garantir a proteção dos direitos fundamentais dos povos indĂgenas, incluindo a segurança fĂsica e territorial", reforçou a Coiab, também em nota.
Consultado pela AgĂȘncia Brasil, o MPF informou que só foi comunicado da ocorrĂȘncia na quinta-feira (20) e que encaminhou a denĂșncia imediatamente à PolĂcia Federal (PF), solicitando que as informações fossem juntadas ao inquérito policial que jĂĄ investiga os episódios anteriores.
"O MPF acompanha e aguarda o trabalho da PF na apuração objetiva dos fatos, relacionando os elementos materiais coletados com os testemunhos, a fim de se traçar um panorama realista do ocorrido", informou o MPF. A reportagem entrou em contato com a superintendĂȘncia da PF no ParĂĄ e aguarda por uma resposta.
Fonte: AgĂȘncia Brasil