IndĂ­genas relatam novo ataque armado à TI Apyterewa, no ParĂĄ

Invasão ocorreu na madrugada da Ășltima quarta-feira, diz lĂ­der indĂ­gena

Por Redação/Diário do Tapajós em 25/02/2025 às 18:38:59

Lideranças da Terra IndĂ­gena (TI) Apyterewa, localizada em São Félix do Xingu, no sudeste do ParĂĄ, a cerca de 1 mil quilômetros de Belém, denunciaram ao Ministério PĂșblico Federal (MPF) um novo ataque armado à aldeia Tekatawa, do povo parakanã.

Segundo o cacique Mama Parakanã, homens armados invadiram a aldeia na madrugada da Ășltima quarta-feira (19). "Foi muito tiro de [espingarda calibre] 12, pistola, carabina, rifle 44, todo tipo de arma", relatou o lĂ­der indĂ­gena em uma mensagem de ĂĄudio que enviou a servidores do MPF.

"A gente revidemos e, graças a Deus, ninguém se feriu", acrescentou Mama Parakanã ao pedir ajuda dos órgãos pĂșblicos para evitar uma tragédia. "A gente precisa de apoio da Força Nacional, da PolĂ­cia Federal, de juiz, de procurador".

De acordo com a Coordenação das Organizações IndĂ­genas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma ponte que dĂĄ acesso à região foi destruĂ­da, deixando a aldeia Tekatawa isolada. "Felizmente, não houve feridos no ataque. No entanto, em razão do risco iminente, as mulheres, crianças e idosos foram imediatamente evacuados para uma aldeia vizinha", acrescentou a entidade indĂ­gena, cobrando que o episódio seja investigado e os agressores, punidos.

Segundo órgãos federais, a Terra IndĂ­gena (TI) Apyterewa jĂĄ foi o território mais desmatado da Amazônia Legal. Até que, em outubro de 2023, o governo federal deflagrou uma megaoperação de desintrusão para retirar todos os não indĂ­genas da ĂĄrea de cerca de 773 mil hectares destinados ao usufruto exclusivo dos parakanã. Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial.

Segundo a Fundação Nacional dos Povos IndĂ­genas (Funai), além de devolver o território aos indĂ­genas, a desintrusão e a presença dos órgãos estatais quase zeraram o desmatamento na TI Apyterewa. Contudo, as riquezas naturais do território seguem despertando a cobiça de invasores e, de tempos em tempos, novos ataques às comunidades e confrontos entre indĂ­genas e não indĂ­genas são registrados.

De acordo com o Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), entidade vinculada à ConferĂȘncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o ataque da Ășltima quarta-feira foi o terceiro registrado em menos de trĂȘs meses.

"São represĂĄlias dos invasores à reocupação dos indĂ­genas nas ĂĄreas em que eles ocupavam antes da desintrusão. Os parakanã estão abrindo novas aldeias nessas ĂĄreas para fazer a vigilância e o trabalho de agricultura. Isso dificulta ou impede o retorno. A cada mĂȘs, então, os antigos invasores fazem ataques como se a terra fosse deles", analisa, em nota, José Cleanton Ribeiro, da coordenação do Conselho Indigenista MissionĂĄrio – Cimi Regional Norte 2.

"Ressalte-se que essa não é a primeira vez que a aldeia é alvo de agressões, o que agrava o clima de insegurança e apreensão entre os membros da comunidade [que reafirma] a necessidade de medidas urgentes por parte das autoridades competentes para garantir a proteção dos direitos fundamentais dos povos indĂ­genas, incluindo a segurança fĂ­sica e territorial", reforçou a Coiab, também em nota.

Consultado pela AgĂȘncia Brasil, o MPF informou que só foi comunicado da ocorrĂȘncia na quinta-feira (20) e que encaminhou a denĂșncia imediatamente à PolĂ­cia Federal (PF), solicitando que as informações fossem juntadas ao inquérito policial que jĂĄ investiga os episódios anteriores.

"O MPF acompanha e aguarda o trabalho da PF na apuração objetiva dos fatos, relacionando os elementos materiais coletados com os testemunhos, a fim de se traçar um panorama realista do ocorrido", informou o MPF. A reportagem entrou em contato com a superintendĂȘncia da PF no ParĂĄ e aguarda por uma resposta.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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