Cerca de 17% da população paraense gastou em apostas esportivas por meio de aplicativos de bets ou sites, segundo pesquisa do Instituto DataSenado, o que coloca o Pará entre os três estados com o maior percentual, empatando com Roraima e Mato Grosso. O levantamento é referente ao mês de setembro e o dado citado é sobre os 30 dias anteriores à pesquisa. Considerando a população estimada do Pará, de 6,6 milhões, com base no Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), significa que ao menos 1,1 milhão de pessoas fizeram apostas no período.
Segundo o economista Nélio Bordalo, a taxa de 17% no Pará é "bastante elevada", especialmente considerando que uma parte significativa da população paraense enfrenta desafios financeiros diários. O alto percentual de apostadores, na opinião dele, pode indicar uma busca por alternativas de renda, mas também levanta preocupações sobre o risco de endividamento. Ele afirma que os cidadãos devem estar informados sobre os perigos associados às apostas e devem saber que as chances de perder dinheiro superam as de ganhar.
Nélio se preocupa também com o potencial de criação de vícios, o que pode levar a gastos "excessivos e incontroláveis", nas palavras dele. "O impacto no orçamento pessoal é significativo, pois as pessoas podem destinar uma parte considerável de sua renda a apostas, comprometendo suas necessidades básicas, como alimentação, saúde e educação. Isso pode gerar um ciclo de endividamento, em que o apostador tenta recuperar perdas investindo mais, o que geralmente resulta em consequências financeiras ainda mais graves", ressalta.
Dados do Brasil
Ainda de acordo com a pesquisa, que analisou o comportamento dos brasileiros, os homens com até 39 anos e com ensino médio completo são os maiores usuários de aplicativos de apostas esportivas no país. Além disso, 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais, o equivalente a 22,1 milhões de pessoas, declararam ter participado de bets nos últimos 30 dias.
Na opinião do especialista, essa tendência pode ser atribuída a vários fatores. Mas, em uma análise financeira, "esse perfil de homem pode estar mais suscetível à pressão social e ao desejo de ganhar dinheiro rapidamente, buscando uma alternativa para complementar a renda. A cultura do "ganho fácil" presente nas campanhas de marketing de apostas também contribui para essa realidade, incentivando comportamentos de risco", analisa o economista.
Como evitar dívidas
Nélio Bordalo dá algumas orientações para quem quer entrar ou já está inserido no ambiente das apostas esportivas. Ele diz que, ao apostar, o consumidor deve sempre ter em mente que trata-se de uma atividade de alto risco. Portanto, é crucial estabelecer um orçamento específico para apostas e considerá-las como uma forma de entretenimento, não como uma estratégia de investimento ou de geração de renda.
"Apostar apenas com dinheiro sobrando é uma prática prudente, mas também é essencial não comprometer recursos destinados a despesas essenciais, principalmente para quem tem família para sustentar. Dicas importantes incluem: definir limites diários ou mensais para apostas, não tentar recuperar perdas com apostas adicionais e buscar informações e estratégias sobre as modalidades de apostas para tomar decisões mais informadas", declara.
No caso de alguém que entrou em uma "bola de neve" e adquiriu dívidas, a dica principal é interromper imediatamente as apostas. Em seguida, o economista afirma que é importante avaliar a situação financeira, listando todos os débitos e priorizando aqueles que têm os maiores juros ou consequências, criando depois um plano de pagamento para ajudar a gerenciar o orçamento de forma mais eficaz.
"Procurar ajuda de profissionais especializados em finanças ou até amigos e familiares que possam oferecer orientações e estratégias para reorganizar a vida financeira também é uma boa saída. Além disso, considerar a participação em grupos de apoio pode ajudar na recuperação emocional e financeira, buscando, portanto, sair desse ciclo".
Usuários do Bolsa Família
Após ser divulgado que, em agosto, cinco milhões de pessoas que fazem parte de famílias beneficiárias do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões via PIX a plataformas de apostas, segundo dados do Banco Central, o governo federal afirmou que o uso do cartão do programa para apostas eletrônicas, conhecidas como 'bets', será proibido. O levantamento mostrou que o valor médio transferido por beneficiário foi de R$ 100.
O economista Nélio Bordalo concorda com a proposta de proibição, uma vez que o Bolsa Família é um programa destinado a garantir o acesso a necessidades básicas, como alimentação e moradia. "Apostar com dinheiro destinado a essas necessidades é irresponsável e pode agravar a situação de vulnerabilidade social das famílias", enfatiza. Ele ainda defende que o governo promova campanhas de conscientização sobre o uso responsável de recursos e a importância de priorizar as necessidades essenciais.
Fonte: O Liberal