Funcionárias e ex-funcionárias do Ministério das Mulheres, comandado por Cida Gonçalves, denunciaram casos de assédio moral e racismo no órgão. Entre as principais acusações está a de Carmen Foro, paraense e ex-secretária de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, que foi exonerada em 8 de agosto. Segundo relatos, após sua demissão, a ministra teria utilizado uma reunião para ameaçar as funcionárias que faziam parte da equipe de Foro, sugerindo a exoneração de quem havia sido trazido pela ex-secretária.
Em uma gravação obtida pelo site Alma Preta, Cida Gonçalves afirma: "quem é dela e quem veio com ela, tinha que ir". A reunião aconteceu no dia 12 de agosto, quatro dias após a saída de Carmen Foro, e nela a ministra reforça que poderia demitir outras pessoas associadas à ex-secretária. "Pode ser que boa parte de vocês também possam sair, ou não, depende de como vai ser o processo da nova secretaria", disse Gonçalves, em tom de ameaça.
Carmen Foro, natural de Moju, no Pará, é uma ativista conhecida pelos seus esforços em prol das mulheres negras e trabalhadoras rurais, além de já ter coordenado a Marcha das Margaridas. Foro, que ocupou o cargo de secretária até agosto, foi exonerada enquanto estava de licença médica por transtornos mentais adquiridos no próprio Ministério das Mulheres.
Na reportagem do Alma Preta, foram ouvidos 17 funcionárias e ex-funcionárias do ministério, revelarando que os episódios de assédio moral e racismo teriam se intensificado na gestão de Cida Gonçalves e da secretária-executiva Maria Helena Guarezi. As denunciantes, todas sob anonimato por medo de represálias, descreveram um ambiente de trabalho adoecedor, marcado por assédio moral, racismo e perseguições políticas. Carmen Foro era a única negra entre as secretárias do ministério, um órgão que, segundo as funcionárias, ganhou o apelido de "Ministério do Assédio".
O racismo, em particular, também foi denunciado. Em uma reunião ocorrida em abril, a secretária-executiva Maria Helena Guarezi teria feito um comentário racista a Carmen Foro, pedindo para que ela se sentasse porque seu cabelo crespo estaria "atrapalhando a visão" de outros presentes. Apesar de Cida Gonçalves ter sido informada do caso, nenhuma ação foi tomada. Desde o início da gestão de Cida Gonçalves, 59 pessoas já deixaram o ministério.
As denúncias ganham ainda mais relevância diante do papel central que Carmen Foro ocupa na luta pelos direitos das mulheres negras, ribeirinhas e trabalhadoras rurais. Além disso, seu envolvimento em campanhas políticas no Pará também foi alvo de acusações por parte da ministra, que afirmou que Foro priorizava essas atividades em detrimento do trabalho no ministério.
Em nota, o Ministério das Mulheres afirmou ser contra qualquer tipo de discriminação e garantiu que providências são tomadas quando denúncias são formalizadas nos canais competentes. No entanto, até o momento, nenhuma denúncia oficial de assédio moral foi registrada na Corregedoria do órgão.
Os relatos das funcionárias destacam ainda o impacto psicológico do ambiente tóxico no Ministério das Mulheres, com diversas pessoas relatando transtornos como burnout, crises de pânico e ansiedade. Segundo os depoimentos, a pressão e o assédio vividos na gestão atual são considerados até piores do que no período em que o ministério fazia parte da estrutura do governo Bolsonaro.
A reportagem do Grupo Liberal solicitou posicionamento do Ministério sobre as denúncias, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Fonte: O Liberal
Fonte: O Liberal