O Ministério Público Federal (MPF) recomendou que órgãos públicos adotem medidas urgentes para a regularização do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, em Santarém (PA). Apesar de ter sido criado há quase 20 anos, o assentamento ainda não teve sua área regularizada, o que viola uma série de direitos das famílias assentadas e expõe as lideranças a constantes ataques de grupos criminosos.
A recomendação foi enviada pelo MPF ao ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, ao presidente do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra), César Aldrighi, e, para garantir a segurança das equipes de regularização e das defensoras e defensores de direitos humanos, também para o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, e para o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Antônio Oliveira.
Desde a criação do PAE, em 2005, as representações regionais do Incra no oeste do Pará informam que não têm orçamento, materiais e, principalmente, recursos humanos suficientes para finalizar a regularização fundiária. Para o MPF, há uma falência operacional do órgão para adotar essas medidas.
Violência e abandono – Nas últimas duas décadas, defensoras e defensores de direitos humanos que atuam pela regularização do PAE Lago Grande vêm sofrendo ameaças, perseguições e até invasão de prédio e tentativa de emboscada. Para procuradoras e procuradores da República autores da recomendação, a demora do Poder Público é a principal causa e o maior fator de agravamento da violência e dos conflitos.
Entidades representativas das 35 mil pessoas integrantes das 155 comunidades de famílias extrativistas, ribeirinhas, pescadoras artesanais e indígenas que compõem o PAE também relatam a ocorrência de desmatamento, retirada ilegal de madeira, portos clandestinos – incluindo portos madeireiros –, poluição das águas, grilagem de terras, crimes contra a flora e fauna – como caça predatória e uso indevido de igarapés –, comércio e venda de drogas ilícitas e garimpo ilegal.
Além disso, a demora para a conclusão da regularização fundiária e titulação do PAE caracteriza o descumprimento das normas da reforma agrária, estimula o crescimento da desigualdade social e impossibilita que trabalhadoras e trabalhadores rurais tenham acesso a políticas públicas – incluindo políticas de concessão de créditos para investimentos na produção – e à gestão do território pela própria organização das famílias assentadas, alerta o MPF.
Medidas recomendadas – Aos titulares do MDA e do Incra, o MPF recomendou as seguintes medidas:
Aos diretores-gerais da PF e da PRF, as procuradoras e os procuradores da República recomendaram a garantia de escolta e segurança às etapas em campo dos trabalhos do Incra no PAE Lago Grande, até a sua titulação, para assegurar a vida e a integridade física dos servidores e servidoras da autarquia e dos defensores e defensoras de direitos humanos do PAE.
Fonte: MPF